Sunday, January 23, 2011

teatro pós-crítico


2 meses después, nos llegan ecos de nuestro paso por Brasil.
En este blog sobre arte, literatura y fútbol comentan LOS CRÍTICOS TAMBIÉN LLORAN.
La foto que preside este post, "mad men style", fue tomada en el Goethe Institute de Sao Paulo, durante la charla de Marcelo Carneiro da Cunha.

TEATRO PÓS-CRÍTICO

Há dois meses passou pelo Brasil uma peça curiosa, intitulada Los criticos también lloran, cuja idéia consiste em se apropriar da primeira das cinco partes do romance de Roberto Bolaño, 2666, composta por quatro críticos - três homens e uma mulher - especialistas em um escritor fictício, Benno von Archimboldi. Digo curiosa porque a peça, dirigida pelo espanhol Marc Caellas, adapta o texto, digamos, através também de seu formato: uma mesa redonda com quatro escritores, e não atores, que dizem o texto de Bolaño como se fossem - talvez - eles próprios. De fato, a peça torna-se um híbrido, com seu gênero instável, exatamente entre performance literária e teatro: por um lado, não se pode dizer que se trata apenas de uma leitura do romance de Bolaño, já que está em jogo toda uma mise-en-scène que vai da construção de um cenário à adaptação do texto, que passou da narração em terceira pessoa para uma espécie de diálogo; por outro, não se pode dizer que é teatro, pelo menos em sentido estrito - trata-se, sim, de um teatro expandido, mas também de literatura expandida - já que, a todo tempo, aparece explícito que a única atuação em jogo diz respeito ao próprio espetáculo da literatura contemporânea: o escritor é (e não é) um ator.

A peça começa com as seguintes palavras, ditas por José Tomas Angola, um dos escritores da mesa, diante de um microfone e do público: "A primeira vez que Leo Campos leu a Benno von Archimboldi ...." - a saber, Tomas Angola repete a primeira frase do romance de Bolaño, exatamente como está no original, mas altera o nome de Jean Claude Pelletier, o personagem de 2666, pelo nome de Leo Campos, outro escritor que está na mesa, ao lado de Jorge Carrión e Margarita Posada, e continua: "... foi no Natal de 2000, em Paris", alterando agora o ano de 1980, original do romance, pelo ano de 2000. Em outras palavras, na peça de Marc Caellas, sem nenhuma histeria, ao que parece, se sobrepõem dois níveis de discurso que, em absoluto, não se separam, atribuindo ao trabalho um interesse que vai um pouco além de Bolaño. O próprio título da peça, Los críticos también lloran, que não vem de 2666, mas de uma invenção provavelmente do diretor, parece dar a última pista sobre tudo isso, afinal: a lágrima, paradigma da encenação, do falso, já não é mais exclusiva dos atores.